Interação entre remineralizadores de solo e ácidos húmicos

Os resíduos orgânicos possuem uma transformação continua no solo, que leva à formação de um complexo de substâncias húmicas. As substâncias húmicas (SH) representam o principal reservatório de carbono orgânica total do solo e sua participação entre diferentes frações de solubilidade em meio alcalino ou ácido pode guardar relação com tipo de solo e manejo adotado. Desta fração de solubilidade possuem uma classificação dividida em três categorias: ácidos fúlvicos (AF), que são solúveis em pH ácido ou alcalino, ácido húmico (AH) são solúveis em pH alcalino, e humina (HU) elas são insolúveis em qualquer pH (Zech et al., 1997; Hayes, 1998).

As substancias húmicas representam cerca de 80% do carbono orgânico do solo, especialmente na humina (Guerra & Santos, 1999). As sustâncias húmicas tem a capacidade de interagir com argila, alterando as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, tendo papel importante na fertilidade e estrutura do solo, imobiliza metais pesados, pesticidas e atua como favorecedor de crescimento raízes nas plantas (Bayer & Mielniczuk, 1999).

A bioatividade de substâncias húmicas foi estabelecida por Baldotto e Baldotto (2014), Rose et al. (2014), Canellas et al. (2015) e Keiji et al. (2020), aonde a interação entre química, física e biologia foi confirmada por Baldotto e Baldotto (2018) relatando a natureza indissociável da ecologia das substâncias húmicas e a necessidade de estratégias de manejo integrado. Nas revisões de Rose et al. (2014), Canellas et al. (2015) e Keiji et al. (2020) teve a confirmação de fatores que contribuem para a bioatividade, como a origem, condições climáticas do cultivo, tipo de planta e forma a ser tratada.

Segundo Mato et al. (1972), sobre o efeito dos ácidos húmicos sobre a atividade de enzimas vegetais, foi observado a diminuição da atividade de enzimas de ácido indolacético oxidase (AIA-oxidase) devido à competição por substrato ou alteração na conformação da proteína pelo ácido húmico adicionados ao meio, que impede a degradação da AIA. Assim, o ácido húmico causou um efeito hormonal indireto sem apresentar hormônios em sua composição. Em estudo Mato et al. (1972) depararam-se com os extratos não fracionados, que foram mais efetivos comparados as fações isoladas de ácidos húmicos, indicando a atividade de compostos orgânicos de menor peso molecular que estão associados aos ácidos húmicos.

Em um trabalho pioneiro de Façanha et al. (2002), constataram que com estimulo à atividade de H+-ATPase por ácidos húmicos adicionados à solução nutritiva aonde cresciam plântulas. O aumento da atividade enzimática causou acréscimo na atividade da bomba de prótons e, acidificação do apoplasto, contribuindo para o aumento na plasticidade e alongamento da parede celular e crescimento de raízes.

A substancias húmicas acarretam na alteração do desenvolvimento das plantas (Chen Aviad, 1990. Nardi et al., 2002; Canellas et al 2002; Chen et al., 2004; Canellas Olivares, 2014). Os efeitos ocasionados no solo, como complexação de metais, aumento na capacidade de troca catiônica, fornecimento de nutrientes e retenção de umidade, interferem no metabolismo vegetal (Rocha; Rose, 2003). As substâncias húmicas atuam diretamente no metabolismo vegetal já que influenciam no transporte de íons, atividade respiratória, conteúdo de clorofila, síntese de ácidos nucleicos e atividade de várias enzimas (Nannipieri et al., 1998).

Os ácidos húmicos em diferentes organizações da planta e em várias etapas estão envolvidos na fisiologia vegetal como, expressão de genes, presença de organelas, metabolismo primário, metabolismo secundário, crescimento e desenvolvimento e a produção de flores, frutos e sementes (Elena et al., 2009; Jannin et al., 2012; Trevisan et al., 2011; Schiavon et al., 2010; Wangen et al., 2013; Arancon et al., 2006; Lima et al., 2011; Baldotto; Baldotto, 2013).

Os efeitos dos ácidos húmicos nas plantas estão relacionados com o sistema radicular e envolve a formação de raízes laterais, formação de raízes adventícias, alongamento radicular, e formação de pelos radiculares (Canellas et al., 2002; Trevisan et al., 2010b; Baldotto et al., 2011c; Jindo et al., 2012; Mora et al., 2012; Baldotto et al., 2012; Baldotto et al., 2014a, 2014b; Malik; Azam, 1985; Silva et al., 2000; Canellas et al., 2011; Silva et al., 2011). Todos esses aumentos na massa radicular provocam para uma maior absorção de água e de nutrientes (Eyheraguibel et al., 2008).

Segundo Santos & Camargo (1999), o efeito das substâncias húmicas não é fácil de ser explicado, devido à natureza pouco conhecida, pode ser diferente, devido sua origem, método de extração, e até mesmo sua concentração. Isso leva a deferir conforme a espécies das plantas, e a sua resposta em cada estágio vegetativo. Picollo (2002), acredita que as substancias húmicas são formadas por pequenas arranjos supra estruturais de moléculas orgânicas que possuem uma interação fraca. Isso explica muito bem a interação que elas têm sobre o ambiente e sobre o efeito que elas possuem no metabolismo das plantas. A interação planta-microrganismo consegue alterar a estrutura e a conformação das substâncias húmicas, e pequenas unidades portadoras de bioatividade, onde estimulam o crescimento e o metabolismo dos organismos.

As substancias húmicas são encontradas hoje em diversos produtos no mercado nacional, esses produtos são extraídos de depósitos minerais como a leonardita, lignita, em solos orgânicos como as turfas, também podem ser obtidos por humificação de resíduos vegetais (BENITES .2006).

Segundo pesquisas de Brownell et al. (1987), relataram que com o uso de produtos comerciais que possuam ácido húmicos na composição, aplicados em diferentes culturas, colaboraram com o aumento expressivo na produtividade. Ocasionando em várias culturas a indução à floração após aplicação foliar, sendo que os melhores resultados foram obtidos em áreas sob stress hídrico e nutricional.

A remineralização do solo, altera as propriedades biológicas do solo, já que os microrganismos e as plantas liberam extracelularmente ácidos orgânicos que solubilizam minerais contidos no pó de rocha (Gyaneshwar et al., 2002; Penha, 2016).

Referencias Bibliografias

ARANCON, N. Q.; EDWARDS, C. A.; LEE, S.; BYRNE, R. Effects of humic acids from vermicomposts on plant growth. European Journal of Soil Biology, v. 42, p. 65-69, 2006. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ejsobi.2006.06.004.

BALDOTTO, L. E. B.; BALDOTTO, M. A. Adventitious rooting on the Brazilian red-cloak and sanchezia after application of indole-butyric and humic acids. Horticultura Brasileira, v. 32, p. 434-439, 2014d. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-053620140000400010.

BALDOTTO, L. E. B.; BALDOTTO, M. A.; GONTIJO, J. B.; OLIVEIRA, F. M.; GONÇALVES, J. Aclimatização de orquídea (Cymbidium sp.) em resposta à aplicação de ácidos húmicos. Ciência Rural, v. 44, p. 830-833, 2014a. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-84782014000500011.

BALDOTTO, M. A.; BALDOTTO, L. E. B. Gladiolus development in response to bulb treatment with different concentrations of humic acids. Revista Ceres, v. 60, p. 138-142, 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/S0034-737X2013000100020.

BALDOTTO, M. A.; BALDOTTO, L. E. B. Relações entre indicadores de qualidade do solo, propriedades redox e bioatividade de substâncias húmicas de solos sob integração lavoura, pecuária e florestas. Revista Ceres, v. 65, p. 373-380, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-737x201865040010.

BAYER, C. & MIELNICZUK, J. Dinâmica e função da matéria orgânica. In: SANTOS, G.A. & CAMARGO, F.A.O., eds. Fundamentos da matéria orgânica: Ecossistemas tropicais e subtropicais. Porto Alegre, Gênesis, 1999. p.9-26.

BENITES, V. de M. et al. Aplicação foliar de fertilizante organomineral e soluções de ácido húmico em soja sob plantio direto. Circular Técnica Embrapa. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. Disponível em: http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/856031>. Acesso em: 17 jun. 2024).

BROWNELL, J. R; NORDSTROM, G.; MARIHART, J.; JORGENSEN, G. Crop responses from two new Leonardite extracts. Science of the Total Environment., Amsterdam, v. 62, p.492-499, 1987.

CANELLAS, L. P.; OLIVARES, F. L. Physiological responses to humic substances as plant growth promoter. Chemical and Biological Technologies in Agriculture, v. 1, p. 1-11, 2014. DOI: https://doi.org/10.1186/2196-5641-1-3.

CANELLAS, L. P.; OLIVARES, F. L.; OKOROKOVA-FACANHA, A. L.; FAÇANHA, A. R. Humic acids isolated from earthworm compost enhance root elongation, lateral root emergence, and plasma membrane H+-ATPase activity in maize roots. Plant Physiology, v. 130, p. 1951-1957, 2002. DOI: https://doi.org/10.1104/pp.007088.

CANELLAS, L. P.; OLIVARES, F. L., AGUIAR, N. O.; JONES, D. L.; NEBBIOSO, A.; MAZZEI, P. Humic and fulvic acid as biostimulants in horticulture. Science Horticulture, v. 196, p. 15-27, 2015. DOI: 10.1016/j.scienta.2015.09.013. CANELLAS, L. P.; DANTAS, D. J.; AGUIAR, N. O.; PERES, L. E. P.; ZSOGON, A.; OLIVARES, F. L.; DOBBSS, L. B.; FAÇANHA, A. R.; NEBBIOSO, A.; PICCOLO, A. Probing the hormonal activity of fractionated molecular humic components in tomato auxin mutants. Annals of Applied Biology, v. 159, p. 202-211, 2011. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1744-7348.2011.00487.x. CHEN, Y.; AVIAD, T. Effect of humic substances on plant growth. In: MACCARTHY, P. (ed.). Humic substances in soil and crop sciences: selected readings. American Society of Agronomy and Soil Sciences, Madison, p. 161-186, 1990. DOI: https://doi.org/10.2136/1990.humicsubstances.c7.

CHEN, Y.; CLAPP, C.E.; MAGEN, H. Mechanisms of plant growth stimulation by humic substances: The role of organo-iron complexes. Soil Science Plant Nutrition, v. 50, p. 1089-1095, 2004. DOI: https://doi.org/10.1080/00380768.2004.10408579.

ELENA, A.; DIANE, L.; EVA, B.; MARTA, F.; ROBERTO, B.; ZAMARREÑO, A. M.; GARCÍA-MINA, J. G. The root application of a purified leonardite humic acid modifies the transcriptional regulation of the main physiological root responses to Fe deficiency in Fe-sufficient cucumber plants. Plant Physiology and Biochemistry, v. 47, p. 215-223, 2009. DOI: https://doi.org/10.1016/j.plaphy.2008.11.013.

EYHERAGUIBEL, B.; SILVESTRE, J.; MORARD, P. Effects of humic substances derived from organic waste enhancement on the growth and mineral nutrition of maize. Bioresource Technology, v. 99, p. 4206-4212, 2008. DOI: https://doi.org/10.1016/j.biortech.2007.08.082

FAÇANHA A. R.; FAÇANHA, A. L. O.; OLIVARES, F. L.; GURIDI, F.; SANTOS, G. A.; VELLOSO, A. C. X.; RUMJANEK, V. M.; BRASIL, F.; SCHRIPSEMA, J.; BRAZ-FILHO, R.; OLIVEIRA, M. A.; CANELLAS, L. P. Bioatividade de ácidos húmicos: efeitos sobre o desenvolvimento radicular e sobre a bomba de prótons da membrana plasmática. Pesquisa. Agropecuária. Brasileira, Brasília, v. 37, n. 9, p. 1301-1310, 2002.

GUERRA, J.G.M. & SANTOS, G.A. Métodos químicos e físicos. In: SANTOS, G.A. & CAMARGO, F.A.O., eds. Fundamentos da matéria orgânica do solo ecossistemas tropicais e subtropicais. Porto Alegre, Gênesis, 1999. 49p.

GYANESHWAR P., KUMAR G.N., PAREKH, L.J, POOLE, P.S. Role of soil microorganisms in improving P nutrition of plants. Plant Soil, v.245, p.83–93, 2002. doi:10.1023/A:1020663916259 https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/mapa-regulamenta-producao-registro-e-comercio-do-po-de-rocha-na-agricultura.

JANNIN, L.; ARKOUN, M.; OURRY, A.; LAÎNÉ, P.; GOUX, D.; GARNICA, M.; FUENTES, M.; FRANCISCO, S. S.; BAIGORRI, R.; CRUZ, F.; HOUDUSSE, F.; GARCIA-MINA, J. M.; YVIN, J. C.; ETIENNE, P. Microarray analysis of humic acid effects on Brassica napus growth: Involvement of N, C and S metabolisms. Plant Soil, v. 359, p. 297-319, 2012. DOI: https://doi.org/10.1007/s11104-012-1191-x.

KEIJI, J.; OLIVARES, F. L.; MALCHER, D. J. P.; SÁNCHEZ-MONEDERO, M. A.; KEMPENAAR, C.; CANELLAS, L. P. From lab to field: role of humic substances under open-field and greenhouse conditions as biostimulant and biocontrol agent. Frontiers in Plant Science, v. 11, p. 426, 2020. DOI: https://doi.org/10.3389/fpls.2020.00426.

LIMA, A. A.; ALVARENGA, M. A. R.; RODRIGUES, L.; CARVALHO, J. G. Concentração foliar de nutrientes e produtividade de tomateiro cultivado sob diferentes substratos e doses de ácidos húmicos. Horticultura Brasileira, v. 29, p. 63-69, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-05362011000100011.

MALIK, K.; AZAM, F. Effect of humic acid on wheat (Triticum aestivum L.) seedling growth. Environmental and Experimental Botany, v. 25, p. 245- 252, 1985. DOI: https://doi.org/10.1016/0098-8472(85)90008-5.

MATO, M. C., OLMEDO, M. G.; MENDEZ, J. Inhibition of indolacetic acid oxidase by soil humic acids fractionated in Sephadex. Soil Biology and Biochemistry, Amsterdam, v. 4, p. 469-473, 1972.

NANNIPIERI, P.; GIANFREDA, L. Kinetics of enzyme reactions in soil environments. In: HUANG, P. M.; SENESI, N.; BUFFLE, J. (ed.). Structure and surface reactions of soil particles. J Wiley & Sons, New York, 1998, p. 449-479.

NARDI, S.; PIZZEGHELLO, D.; MUSCOLO, A.; VIANELLO, A. Physiological effects of humic substances on higher plants. Soil Biology and Biochemistry, v. 34, p. 1527-1536, 2002. DOI: https://doi.org/10.1016/S0038-0717(02)00174-8.

PENHA, M.N.C. Caracterização Analítica de Rochas Silicatadas e Avaliação do seu Potencial Agrícola como fonte de Potássio. São Carlos/SP. 91p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Química – Universidade Federal de São Carlos. 2016.

PICOLLO, A. The supramolecular structure of humic substances: A novel understanding of humus chemistry and implications in soil science. Adv. Agron, 75:57-134, 2002.

ROCHA, J. C.; ROSA, A. H. Substâncias húmicas aquáticas: interações com espécies metálicas. São Paulo, Editora UNESP, 2003. p. 120.

ROSE, M. T.; PATTI, A. F.; LITTLE, K. R.; BROWN, A. L.; JACKSON, W. R.; CAVAGNARO, T. R. A meta-analysis and review of plant-growth response to humic substances: practical implications for agriculture. Advances in Agronomy, v. 124, p. 37-89, 2014. DOI: https://doi.org/10.1016/B978-0-12-800138-7.00002-4.

SCHIAVON, M.; PIZZEGHELLO, D.; MUSCOLO, A.; VACCARO, S.; FRANCIOSO, O.; NARDI, S. High molecular size humic substances enhance henylpropanoid metabolism in maize (Zea mays L.). Journal of Chemistry and Ecology, v. 36, p. 662–669, 2010.

SANTOS, G.A. & CAMARGO, F.A.O. Fundamentos da matéria orgânica do solo: Ecossistemas tropicais e subtropicais. Porto Alegre, Gênesis, 1999. 491p.

SILVA, A. C.; CANELLAS, L. P.; OLIVARES, F. L.; DOBBSS, L. B.; AGUIAR, N. O.; FRADE, D. O. R.; REZENDE, C . E.; PERES, L. E. P. Promoção do crescimento radicular de plântulas de tomateir o por substâncias húmicas isoladas de tur feiras. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 35, p. 1609-1617, 2011.

SILVA, R. M.; JABLONSKI, A.; SIEWERDT, L.; SILVEIRA JÚNIOR, P. Desenvolvimento das raízes do azevém cultivado em solução nutritiva completa, adicionada de substâncias húmicas, sob condições de casa de vegetação. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, p. 1623-1631, 2000. DOI: https://doi.org/10.1590/S1516-35982000000600005.

TREVISAN, S.; PIZZEGHELLO, D.; RUPERTI, B.; FRANCIOSO, O.; SASSI, A.; PALME, K.; QUAGGIOTTI, S.; NARDI, S. Humic substances induce lateral root formation and expression. of the early auxin-responsive IAA19 gene and DR5 synthetic element in Arabidopsis. Plant Biology, v. 12, p. 604-614, 2010b. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1438-8677.2009.00248.x.

TREVISAN, S.; BOTTON, A.; VACCARO, S.; VEZZARO, A.; QUAGGIOTTI, S.; NARDI, S. Humic substances affect Arabidopsis physiology by altering the expression of genes involved in primary metabolism, growth and development. Environmental and Experimental Botany, v. 74, p. 45-55, 2011. DOI: nttps://doi.org/10.1016/j.envexpbot.2011.04.017.

WANGEN, D. R. B.; MENDES, L. F.; SAGATA, E.; SILVA, H. C.; SHIMAMOTO, G. F. Fertilizante orgânico na produção de couve-da-malásia, Brassica chinensis var. parachinensis (Bailey) Sinskaja. Enciclopédia Biosfera, v. 9, p. 1429-1435, 2013.

ZECH, W.; SENESI, N.; GUGGENBERGER, G.; KAISER, K.; LEHMANN, J.; MIAN, T.M.; MILTNER, A. & SCHROTH, G. Factors controlling humification and mineralization of soil organic matter in the tropics. Geoderma, 79:117- 161, 1997.

Leia mais: Interação entre remineralizadores de solo e ácidos húmicos

  • Acessos 201

O Potássio e os Remineralizadores de Solos

A fragilidade brasileira está ligada à necessidade de importação de insumos que compõem a maioria dos fertilizantes solúveis (NPK). Portanto, há uma necessidade crescente de alternativas para suprir a demanda de macro e micronutrientes dos solos brasileiros, complementando os fertilizantes tradicionais.

Neste cenário de dependência externa, o potássio (K) ganha destaque. Este elemento é de grande importância no país, sendo o cloreto de potássio (KCl) o mais utilizado. Em 2013, a produção nacional de KCl foi de apenas 6,03% da demanda, evidenciando uma baixa produção nacional e uma forte dependência de importações (DNPM, 2014).

Os minerais mais explorados como fontes de fertilizantes potássicos são: silvita (KCl), carnalita (KCl.MgCl2.6H2O), cainita (KCl.MgSO4.3H2O) e langbeinita (K2SO4.2MgSO4). Estes minerais são solúveis em água, o que facilita sua extração e processamento. A demanda crescente pelo insumo leva à busca por alternativas, como o uso de remineralizadores de solo. A técnica de rochagem, visa reduzir a utilização de fertilizantes minerais convencionais, contribuindo para a remineralização do solo e fornecimento de macro e micronutrientes. Esta técnica altera positivamente a fertilidade do solo sem afetar o equilíbrio ambiental. No Brasil, os remineralizadores são favorecidos pela grande geodiversidade, englobando diversas rochas que se enquadram nos princípios dos 3R’s (reciclar, reduzir e reutilizar) propostos na ECO92.

No solo, as rochas se decompõem em partículas de areia, silte e argila, liberando potássio (K) e outros elementos que se tornam disponíveis para as plantas. O potássio é um dos nutrientes presente nos remineralizadores de solo, sendo uma alternativa para a obtenção de fertilizantes potássicos. A eficiência dos remineralizadores depende de fatores como natureza mineralógica, composição química e grau de moagem, além da interação com o solo e a presença de matéria orgânica, sistema radicular das plantas e microrganismos. A remineralização do solo também altera as propriedades biológicas, com microrganismos e plantas liberando ácidos orgânicos que solubilizam minerais contidos no pó de rocha.

Microrganismos como bactérias e fungos micorrízicos arbusculares desempenham papel crucial no desenvolvimento das plantas, solubilizando potássio e outros nutrientes. Os microrganismos se concentram na região rizosférica, influenciados pelas exsudações orgânicas das raízes. A influência sobre a disponibilidade de K varia conforme a rocha e a natureza microbiana. Embora ainda haja poucas informações, Sattar et al. (2019) revisaram os mecanismos das bactérias que solubilizam potássio, destacando a produção de ácidos orgânicos fortes e íons H+ como solubilizadores de minerais potássicos.

Ácidos orgânicos como oxálico, tartárico e cítrico desempenham papel crucial na solubilização de minerais como mica, biotita, muscovita, feldspato, ilita e ortoclase. Os ácidos orgânicos também aumentam a solubilidade de rochas e sua disponibilidade para as plantas, quelatando metais como Fe e Al, e estimulando a população de microrganismos na rizosfera. Além disso, facilitam o desempenho dos fungos micorrízicos, melhorando a absorção dos nutrientes.

A produção de ácidos orgânicos é o principal mecanismo de solubilização de K por diferentes espécies de Bacillus. A acidólise da rizosfera e minerais, e a quelatação de cátions ligados a silicatos, são processos cruciais nesse contexto. Os fungos também desempenham um papel importante, solubilizando potássio através da produção de ácidos orgânicos e aumentando a reatividade dos minerais. A eficiência do uso de potássio pode ser intensificada pela inoculação de microrganismos solubilizadores de potássio e práticas de agricultura regenerativa, aumentando a produção e o vigor das culturas.

No entanto, a remineralização do solo para aumentar a fertilidade ocorre em médio a longo prazo, portanto, é necessário fazer um planejamento com técnicos competentes e que possam dar o direcionamento correto do manejo e para fornecer nutrientes aos solos e às plantas em quantidade e qualidade. Com o uso de remineralizadores, espera-se que a agricultura brasileira se torne mais sustentável e menos dependente de insumos importados, promovendo uma maior segurança alimentar e ambiental a longo prazo.

Referências Bibliográficas

ALVES, Vera Maria Carvalho et al. Solubilização de potássio presente em minerais por microrganismos e efeitos no desenvolvimento de culturas agrícolas. 2021. Embrapa, Milho e Sorgo. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1134272/1/Doc-264-Solubilizacao-de-potassio.pdf. Acesso em: 07 nov. 2021.

BADR, M. A.; SHAFEI, A. M.; SHARAF EL-DEEN, S. H. The dissolution of K and P-bearing minerals by silicate dissolving bacteria and their effect on sorghum growth. Research Journal of Agriculture and Biological Sciences, v. 2, n. 1, p. 5-11, 2006.

BAHADUR, I.; MAURYA, R.; ROY, P.; KUMAR, A. Potassium-solubilizing bacteria (KSB): a microbial tool for K-solubility, cycling, and availability to plants. In: KUMAR, A.; MEENA, V. (Eds.). Plant growth promoting rhizobacteria for agricultural sustainability. Singapore: Springer, 2019. p. 257-265. DOI: 10.1007/978-981-13-7553-8_13.

BRITO, Rychaellen Silva de Brito et al. Rochagem na agricultura: importância e vantagens para adubação suplementar. South American Journal Of Basic Education, Technical And Technological., Rio Branco, Ac, v. 6, n. 1, p. 528-540, 14 maio 2019.

CALVARUSO, Christophe et al. Influence of forest trees on the distribution of mineral weathering associated bacterial communities of the Scleroderma citrinum mycorrhizosphere. Appl. Environ. Microbiol. 76, 4780–4787, 2010.

DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). Sumário Mineral 2014. Brasília: v. 34, 2014.

GYANESHWAR P., KUMAR G.N., PAREKH, L.J, POOLE, P.S. Role of soil microorganisms in improving P nutrition of plants. Plant Soil, v.245, p.83–93, 2002. doi:10.1023/A:1020663916259 https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/mapa-regulamenta-producao-registro-e-comercio-do-po-de-rocha-na-agricultura.

KHANI, A. G.; ENAYATIZAMIR, N.; MASIR, M. N. Impact of plant growth promoting rhizobacteria on different forms of soil potassium under wheat cultivation. Letters in Applied Microbiology, v. 68, n. 6, p. 514-521, 2019. DOI: 10.1111/lam.13132.

KOUR, D.; RANAA, K. L.; KAURA, T.; YADAVB, N.; HALDERC, S. K.; YADAVA, A. N.; SACHAND, S. G.; SAXENA, A. K. Potassium solubilizing and mobilizing microbes: biodiversity, mechanisms of solubilization, and biotechnological implication for alleviations of abiotic stress. In: RASTEGARI, A. A.; YADAV, A. N.; YADAV, N. (Eds.). New and future developments in microbial biotechnology and bioengineering. Amsterdam: Elsevier, 2020. p. 177-202. DOI: 10.1016/B978-0-12-820526-6.00012-9.

LIU, D.; LIAN, B.; DONG, H. Isolation of Paenibacillus sp. and assessment of its potential for enhancing mineral weathering. Geomicrobiology Journal, v. 29, n. 5, p. 413-421, 2012. DOI: 10.1080/01490451.2011.576602.

MARTINS, E.S. et. al. Relatório 1ª Fase - Parceria Embrapa – TERRATIVA. Agrominerais Silicáticos da TERRATIVA como Fertilizantes Potássicos e Condicionadores Multinutrientes de Solos para Aplicação no Bioma Cerrado. 2015.

MEENA, V. S.; BAHADUR, I.; MAURYA, B. R.; KUMAR, A.; MEENA, R. K.; MEENA, S. K.; VERMA, J. P. Potassium-solubilizing microorganism in evergreen agriculture: an overview. In: MEENA, V. S.; MAURYA, B. R.; PRAKASH VERMA, J.; MEENA, R. S. (ed.). Potassium solubilizing microorganisms for sustainable agriculture. New Delhi: Springer, 2016. DOI: 10.1007/978-81-322-2776-2_1.

Leia mais: O Potássio e os Remineralizadores de Solos

  • Acessos 137

Interação dos microrganismos com o remineralizador na absorção dos nutrientes pela planta

O Brasil é o País com o maior potencial de expansão da agricultura no globo, alimentando em 2020 quase 800 milhões de pessoas. Enquanto a produção de grãos mundial cresceu 2,05% ao ano, entre 2011 e 2020, a do Brasil cresceu 5,33%, mais que o dobro da taxa global (Contini; Aragão, 2020). Para isso, o país também depende de insumos importados, da disponibilidade e eficiência de recursos naturais, incluindo fontes alternativas de nutrientes, como remineralizadores e o desenvolvimento de estratégias e tecnologias para otimizar a produção, fornecendo nutrientes em quantidades satisfatórias. O País é atualmente o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes, atrás apenas da China, da Índia e dos Estados Unidos (Alves et al., 2021). O uso de remineralizadores como fonte de nutrientes é uma alternativa para minimizar a dependência de insumos importados, de modo a beneficiar o meio ambiente, e trazer muitos benefícios ao solo. Assim são consideradas estratégicas, tanto inovações tecnológicas que propiciem a redução da dependência brasileira da importação de fertilizantes, ao descobrir e explorar novas reservas de fontes naturais de nutrientes, como os remineralizadores, quanto pesquisar os diversos microrganimos, que possam interagir com os remineralizadores no solo para disponibilizar o maior numero possivel de nutrientes para as plantas.

A busca de microrganismos eficientes na disponibilização biológica de nutrientes ainda é pouco explorada no Brasil, e o desenvolvimento de bioinoculantes, por exemplo, abre uma nova perspectiva para aumento da produtividade e da fertilidade dos solos, com potencial para substituição parcial ou total de fertilizantes sintéticos (Alves et al., 2021). Neste campo, um desafio para a obtenção de resultados significativos sobre a ação de microrganismos na disponibilização de nutrientes às culturas está na dificuldade de se discriminar os efeitos na solubilização de minerais propriamente dita, daqueles relacionados à promoção do crescimento das plantas. Embora tanto a solubilização de minerais quanto a promoção do crescimento radicular sejam aspectos desejáveis, a prevalência de um ou de outro processo tem implicações distintas na possibilidade de se reduzir a aplicação de fertilizantes. Estudos demonstram que o uso de microrganismos é capaz de promover a solubilização de agrominerais, disponibilizando nutrientes às plantas (Martins et al. 2015), e que diferentes grupos funcionais, incluindo bactérias e fungos, são propícios para agregar valor a rochas silicáticas (Silva et al. 2015, Lopes-Assad et al. 2006).

Os solos são estruturados de maneira heterogênea, o que possibilita a ocorrência de micro-hábitats, que irão variar entre si, em função das suas características físicas e químicas, e da disponibilidade de nutrientes (Cardoso et al. 2016). Os organismos que habitam o solo, possuem funções de suma importância para a estabilidade e para a sustentabilidade de ecossistemas, tais como a degradação de compostos orgânicos e a ciclagem de nutrientes, e outras mais específicas, como a fixação biológica de nitrogênio, a promoção de crescimento, ou o auxílio na absorção de nutrientes, pelas plantas (Chagnon et al. 2013)

Os microrganismos desempenham um papel essencial no solo e em diversos grupos, como fungos e bactérias, e têm a capacidade de solubilizar minerais importantes para o crescimento das plantas. Uma ampla gama desses microrganismos, solubilizadores de potássio, por exemplo, são descritos em diversos trabalhos, e incluem bactérias, dos gêneros Bacillus, Paenibacillus, Ferrooxidans, Acidothiobacillus, Pseudomonas, Burkholderia, e fungos, dos gêneros Aspergillus e Penicillium, dentre outros (Meena et al. 2014). Para o nutriente potássio, diversos trabalhos, evidenciam resultados favoráveis à utilização de minerais silicáticos, associados aos microrganismos. Segundo Marriel et al. (2006), a biodisponibilidade, in vitro, de potássio, presente em rochas silicáticas, pode aumentar em até 40 vezes, quando incubadas na presença de fungos filamentosos, pré-selecionados como eficientes. De modo similar, Lopes-Assad et al. (2010), que avaliaram a influência do fungo, Aspergillus niger, na solubilização de rochas ultramáfica alcalina e flogopitito, verificaram que, a acidificação do meio, promovida pelo fungo, foi responsável pelo aumento na solubilização de K, dependendo do tipo de rocha.

Moreira (2016) observou em seus estudos que o uso de micaxisto + kamafugito associado a uma fonte de micro-organismo (Amino Peixe Raízes®) proporcionou aumento significativo no peso e na quantidade de tubérculos de batata, alcançando um incremento de 36% na produtividade de tubérculos, alcançando a produção média de 18,3 ton/ha.

O uso de microrganismos solubilizadores também tem grande potencial para aumentar a eficiência de rochas. Em pesquisa realizada por Silva (2018) foi observado o aumento da produtividade e mudanças na microbiota do solo em cultivo de cana-de- açúcar com aplicação de composto e inoculação de bactérias solubilizadoras de fosfato. Em termos de solubilização biológica de potássio, Cara et al. (2012) descreveu que para aumentar a solubilidade de potássio a partir dessas rochas, o uso de microrganismos é capaz de promover a decomposição de minerais, em parte devido à ação de ácidos orgânicos e inorgânicos produzidos pela atividade biológica. A partir desse conceito, muitos processos de biossolubilização de potássio in vitro a partir de pó de rocha vêm sendo estudados. A descoberta de uma fonte alternativa colocaria um fim na dependência externa de fertilizantes.

Oliveira (2021) com objetivo de apresentar um compilação e análise do estado da arte sobre o uso das tecnologias de remineralizadores utilizadas em conjunto com a biofertilização, confirmou que essa técnica, representa uma alternativa sustentável para fornecer nutrientes as plantas, e que essa técnica, seria capaz de atender a demanda por insumos requeridas pelas praticas agrícolas desenvolvidas em solos intensamente intemperizados.

Referências

ALVES, V. M. C. et al. Solubilização de potássio presente em minerais por microrganismos e efeitos no desenvolvimento de culturas agrícolas. Sete Lagoas : Embrapa Milho e Sorgo, 2021. 20 p. : il. -- (Documentos / Embrapa Milho e Sorgo, ISSN 1518-4277; 264).

CARA, D.V.C.; ROCHA, D.L.; CUNHA, C.D.; RIZZO, A.C.L.; SÉRVULO, E.F.C. Solubilização biológica de potássio. Rio de Janeiro: CETEM/MCTI, Série Tecnologia Ambiental, 66, 42p. 2012. CARVALHO, A.M.X. Rochagem e suas interações no ambiente solo: contribuições para aplicação em agroecossistemas sob manejo agroecológico. Viçosa, 2012. 129 p. Tese (Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas) - Universidade Federal de Viçosa.

CARDOSO, E. J. B. N.; ANDREOTE, F. D. Microbiologia do solo (recurso eletrônico). 2°Edição. Piracicaba: ESALQ, 2016. 221 p.

CONTINI, E.; ARAGÃO, A. O agro brasileiro alimenta 800 milhões de pessoas. Disponível em: https://www.beefpoint.com.br/o-agro-brasileiro-alimenta-800- milhoes-de-pessoas/. Acesso em: 10 dez. 2020.

CHAGNON, P.L.; BRADLEY, R.L.; MAHERALI, H.; KLIRONOMOS. J. N. A trait- based framework to understand life history of mycorrhizal fungi. Trends in Plant Science, Oxford, v. 18, p. 484-491, 2013.

LOPES-ASSAD, M. L.; ROSA, M. M.; ERLER, G.; CECCATO-ANTONINI, S. R.; Solubilização de pó-de-rocha por Aspergillus niger, Espaço & Geografia, v. 9, n.1, 1-17, 2006.

LOPES-ASSAD, M.L.; AVANSINI, S.H.; ROSA, M.M.; CARVALHO, J.R.P. & ANTONINI, S.R.C. The solubilization of potassium-bearing rock powder by Aspergillus niger in small-scale batch fermentations. Can. J. Microbiol. v.56, p.598-605, 2010.

MARTINS, E.S. et al. Relatório 1ª Fase - Parceria Embrapa – TERRATIVA. Agrominerais Silicáticos da TERRATIVA como Fertilizantes Potássicos e Condicionadores Multinutrientes de Solos para Aplicação no Bioma Cerrado. 2015.

MARRIEL, I.E.; COELHO, A M.; GUIMARÃES, P.S.; SOARES, E.M.; NONATO, L.F.V.; OLIVEIRA, C.A.; ALVES, V.M.C. Seleção de isolados de fungos biossolubilizadores de rochas silicáticas in vitro. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 2006. Dourados. Anais. Embrapa Agropecuária Oeste. CD-ROM.

MEENA, V. S.; MAURYA, B. R.; VERMA, J. P. Does a rhizospheric microorganism enhance K + availability in agricultural soils. Microbiological Research, Jena, v. 169, n. 5/6, p. 337-347, 2014.

MOREIRA, D. T. Efeito da rochagem no crescimento e nutrição de plantas de batata. Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, Campus Araras-SP, 2016.

SILVA, U. C.; SILVA, P. G.; ADELÁRIO, F. M. S.; OLIVEIRA, A. C. de; ALVES, V. M. C.; MARRIEL, I. E. Isolamento e caracterização de bactérias isoladas de pó de rocha quanto à liberação de potássio in vitro. 28 p.: il. (Documentos / Embrapa Milho e Sorgo, ISSN 1518-4277; 177). Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2015.

SILVA, A.M.M. Aumento da produtividade e mudanças na microbiota do solo em cultivo de cana-de-açúcar com aplicação de composto e inoculação de bactérias solubilizadoras de fosfato. Piracicaba: 72 p., 2018. Tese (Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo.

Leia mais: Interação dos microrganismos com o remineralizador na absorção dos nutrientes pela planta

  • Acessos 562

Interação de plantas de cobertura com prática de remineralização do solo

A técnica da rochagem tem como objetivo revitalizar solos que sofreram degradação, com o intuito de melhorar sua fertilidade para promover práticas agrícolas mais sustentáveis (Theodoro et al., 2012). Contudo, a eficácia da rochagem pode ser restrita quando utilizada como única abordagem para manejar a fertilidade, devido à diversidade na mineralogia e na granulometria das rochas, o que afeta a velocidade de liberação de nutrientes (Carvalho, 2012). Devido à limitada reatividade dos remineralizadores de solo, é essencial explorar alternativas que acelerem a solubilização dos minerais, facilitando a disponibilidade dos nutrientes e resultando em uma maior eficácia no seu aproveitamento (Sustakowski, 2020). Nesse contexto, é importante considerar o uso de plantas de serviço, devido às suas gomas, exsudatos, ácidos e mucilagens radiculares, os quais são liberados e promovem a rápida solubilização dos nutrientes (Keuskamp et al., 2015).

As plantas desenvolvem estratégias para acessar os elementos retidos nas estruturas minerais, que podem variar desde a simples fragmentação das partículas até alterações complexas na superfície dos minerais. Essas mudanças modificam as características químicas e aceleram o intemperismo dos minerais, resultando na disponibilização mais fácil desses elementos para as culturas subsequentes (Hinsigger et al., 2001).

Além disso, a adoção de plantas de cobertura contribuirá para a criação de canais no solo, principalmente através do crescimento das raízes. Os bioporos desempenham um papel crucial na disponibilidade de água, no transporte de nutrientes e na decomposição das raízes, resultando no retorno de nutrientes provenientes das camadas mais profundas do solo. Isso, por sua vez, cria condições mais favoráveis para o desenvolvimento das raízes das culturas subsequentes (Santos et al., 2014).

Numerosas plantas têm a habilidade de alterar as condições químicas na rizosfera ao liberar íons H+ ou OH-. Esses íons são produzidos durante a respiração e a absorção, ou são liberados por meio de exsudatos e ácidos orgânicos de baixo peso molecular no solo. Esse processo desencadeia a dissolução dos minerais, facilitando a disponibilização de nutrientes para as plantas (Manning et al., 2017). Os ácidos orgânicos liberados pelas plantas interagem com a superfície dos minerais, complexando o Al3+ presente em sua estrutura ou formando quelatos com os cátions da solução. Isso aumenta a instabilidade dos minerais devido ao aumento do gradiente de concentração (Landeweertet et al., 2001). A diferença de pH entre a rizosfera e o solo pode variar até duas unidades, e uma única raiz pode tanto aumentar quanto reduzir o pH da rizosfera, o que por sua vez intensifica a dissolução de compostos que possuem maior solubilidade em pH alto ou baixo (Neumann: Romheld, 2012).

As interações dos ácidos orgânicos e as mudanças na acidez na região da rizosfera podem iniciar gradualmente o processo de dissolução dos minerais. Apesar de ser um processo lento, ocorre de maneira contínua ao longo do ciclo das plantas, desencadeando reações semelhantes ao intemperismo químico desses minerais (Rocha Neto, 2020). A presença de plantas de serviço na cobertura do solo afeta a taxa de mineralização dos nutrientes. A decomposição dos resíduos aumenta a concentração de ácidos orgânicos, iniciando processos de liberação de nutrientes. Isso cria condições favoráveis para a atividade microbiológica ao redor da rizosfera, aumentando o potencial eletroquímico e promovendo estratégias de liberação de elementos retidos na estrutura dos minerais (Guppy et al., 2005).

Algumas variedades de plantas têm a capacidade de aumentar a disponibilidade de nutrientes provenientes de rochas, tornando a remineralização do solo por meio de plantas de cobertura uma alternativa mais rápida para adquirir esses benefícios (Carvalho, 2013). O solo atua como um sistema que retém e libera água, ar e nutrientes para as plantas. Para que as culturas prosperem, o ambiente do solo deve ser equilibrado, com uma adequada relação de poros, uma estrutura bem desenvolvida e sem obstáculos ao crescimento das raízes, proporcionando condições ideais para qualquer cultura (Pires et al., 2013).

Em uma pesquisa envolvendo o uso de pó de rocha com aveia e nabo forrageiro, foi observado um aumento nos níveis de fósforo no solo. Isso sugere que, mesmo quando a rocha possui baixo teor de P2O5, ela contribui para a liberação de quantidades significativas de fósforo durante o ciclo de cultivo. Esse aumento pode estar relacionado à maior concentração de fósforo nas folhas obtida tanto pela rochagem quanto pelo consórcio, o que pode ser atribuído à liberação no solo ou ao deslocamento do fósforo absorvido (Kruker, 2019).

Referências Bibliográficas

CARVALHO, A. M. X. de. Rochagem e suas interações no ambiente solo: contribuições para aplicação em agroecossistemas em manejo agroecológico. 2012. 116p. Tese (Dou¬torado em Solos e Nutrição de Plantas) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2012.

CARVALHO, A. M. X. de. Rochagem: um novo desafio para o manejo sustentável da fertilidade do solo. In: SILVA, J. C. da.; SILVA, A. A. S.; ASSIS, R. T. de. Sustentabilidade e inovações no campo. Uberlândia: Composer, 2013. p.117-132.

COOPER, J.; BARANSKI, M.; STEWART, G.; NOBEL-DE-LANGE, M.; BÀRBERI, P.; FLIEßBACH, A.; PEIGNÉ, J.; BERNER, A.; BROCK, C....MÄDER, P. Shallow non-inversion tillage in organic farming maintains crop yields and increases soil C stocks: a meta-analysis. Agronomy Sustainable Development, v.26, n.22, 2016.

GUPPY, C. N.; MENZIES, N. W.; MOODY, P. W.; BLAMEY, F. P. C. Competitive sorption reactions between phosphorus and organic matterin soil: a review. Australian Journal of Soil Research, v.43, n.2, p.189-202, 2005.

HINSINGER, P.; BARROS, O. N. F.; BENEDETTI, M. F.; NOACK, Y.; CALLOT, G. Plantindu¬ced weathering of a basaltic rock. Experimental evidence. Geochimica et Cosmochimica Acta, 65:137-152, 2001.

KEUSKAMP, D. H.; KIMBER, R.; BINDRABAN, P.; DIMKPA, C.; SCHENKEVELD, W. D. C. Plant exudates for nutrient uptake. VFRC Report, v.4, 2015.

KRUKER, G. Adubação com pó de rocha e plantas de cobertura em sucessão soja (Glycine max) e trigo (Triticum aestivum). 2019. 120p. Dissertação (Mestrado em Ciência do Solo) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC, 2019.

LANDEWEERT, R.; HOFFLAND, E.; FINLAY, R. D.; KUYPER, T. W.; BREEMEN, N. V. Linking plants to rocks: ectomycorrhizal fungi mobilize nutrients from minerals. Trends in Ecology & Evolution, v.16, n.5, p.248-254, 2001.

MANNING, D. A. C.; BAPTISTA, J.; LIMON, M. S.; BRANDT, K. Testing the ability of plants to access potassium from framework silicate minerals. Science of the Total Environment, v.574, n.1, p.476-481, 2017.

NEUMANN, G.; ROMHELD, V. Rhizosphere chemistry in relation to plant nutrition. In: MARSCHNER, P. (Ed.). Mineral Nutrition of Higher Plants, 3.ed. Academic Press, 2012.

PIRES, C. A. B.; SILVA, V. R. da.; BERTOLLO, A. M.; KOPPE, E.; CANCIAN, L. C.; LUZ, F. B. da. Influência da aplicação superficial de calcário e gesso agrícola nas propriedades físicas de um Latossolo vermelho. In: Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, 34, 2013, Florianópolis, SC. Anais. Florianópolis, SC: Epagri, 2013.

SANTOS, F. S.; ZANÃO JUNIOR, L. A.; SECCO, D.; DIAS, P. P.; TOMASSONI, F.; PEREIRA, N. A utilização de plantas de cobertura na recuperação de solos compactados. Acta Iguazu, Cascavel, PR, v.3, n.3, p.82-91, 2014.

SUSTAKOWSKI, M. C. Teor de nutrientes, propriedades físicas do solo e produtividade de soja após a aplicação de pó de rocha associado a plantas de cobertura. 2020. 73p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, 2020.

THEODORO, S. H.; TCHOUANKOUE, J. P.; GONÇALVES, A. O.; LEONARDOS, O.; HARPER, J. A importância de uma rede tecnológica de rochagem para a sustentabilidade em países tropicais. Revista Brasileira de Geografia Física, 5:1390-1407, 2012.

Leia mais: INTEGRAÇÃO DE PLANTAS DE COBERTURA COM PRÁTICAS DE REMINERALIZAÇÃO DO SOLO

  • Acessos 767

Poder de neutralização de pH

O potencial de hidrogênio iônico (pH) do solo é um dos fatores que interfere diretamente no desenvolvimento e produção das plantas. O pH é um índice que indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio em decorrências dos ácidos que em solução aquosa liberam íons hidrogênio H+ (Lopes et al., 1990). O poder de neutralização de pH está associado à capacidade de uma solução resistir a mudanças no pH quando ácidos ou bases são adicionados, também denominado de Poder Tampão.

Os sistemas de tamponamento desempenham um papel crucial em muitos processos biológicos e químicos, pois ajudam a manter o pH dentro de um intervalo específico. Em resumo, o poder de neutralização de pH se refere à capacidade de uma solução tamponada resistir a mudanças no pH, mesmo quando ácidos ou bases são adicionados à solução.

Essa é uma informação importante, pois a grande maioria dos solos agrícolas brasileiros apresenta alta acidez (pH H2O < 5,5), sendo um dos principais responsáveis pela baixa produtividade das culturas. Assim, esses solos necessitam que o seu pH se eleve por meio da aplicação de corretivos, visando neutralizar os efeitos dos elementos tóxicos e fornecer, ao mesmo tempo, Ca e Mg como nutrientes.

A calagem é uma das práticas agrícolas mais utilizadas por criar condições ideais para o desenvolvimento da maioria das culturas de interesse agrícola. Essa técnica é indispensável para a obtenção de altas produtividades nos solos ácidos dos países tropicais. A necessidade de calagem varia de acordo com as propriedades químicas e físicas do solo. Diferentes características, como textura e o teor de matéria orgânica, podem influenciar na quantidade de CaCO3 a ser aplicado. Os solos mais argilosos, normalmente apresentam um poder tampão maior enquanto solos mais arenosos apresentam um poder tampão menor.

Rochas consideradas básicas, como os basaltos, têm maior efeito alcalinizante, comparadas a rochas ácidas, como os granitos (Campbell, 2009). Os basaltos são rochas que apresentam uma mineralogia específica composta principalmente por minerais como Labradoria (Na0,5-0,3,Ca0,5-0,7)Al(Al0,5-0,7,Si0,5-0,3)Si2O8, Andesina (Na0,7-0,5Ca0,3-0,5Al1,3-1,5Si2,7-2,5O8), Augita (Ca,Na)(Mg,Fe,Al,Ti)(Si,Al)2O6 e principalmente vidro vulcânico material de baixa cristalinidade com alta reatividade no solo.

Pesquisando diferentes doses de basalto em um experimento de incubação com Latossolos Amarelos distróficos, Mello et al. (2012) concluíram que o efeito da adição das doses de basalto apresentou maior eficiência para a neutralização da acidez potencial, elevando o pH em água de 4,8 até 5,5, principalmente com altas doses. Alosivi et al. (2017), em um estudo similar com Latossolo Vermelho distroférrico argiloso observaram que a dose de 12 Mg.ha-1 de pó de basalto proporcionou a máxima redução da acidez ativa, elevando o pH em água de 5,9 para 6,4, aos 90 dias da reação do pó de basalto no solo.

Em estudo em campo também tem demonstrado o efeito da aplicação do basalto na redução da acidez. Em pastagens, Delacorte et al. (2015) observaram que o pó de basalto hidrotermalizado promoveu a diminuição dos teores de Al3+e de H+Al de 1,8 para 1,3 cmolc kg-1 e de 17,7 para 12,2 cmolc kg-1 respectivamente, e o aumento na produção de Matéria Seca de 600 para 1400 kg ha-1. O pó de basalto hidrotermalizado é composto de minerais silicatados, dentre eles argilominerais 2:1 que ao reagir no solo liberam hidroxilas, sugerindo o efeito nos componentes de acidez. Em estudo com o plantio de soja, o valor do pH CaCl2 e pH H2O aumentou em relação às análises prévias a aplicação do basalto a partir da dose 5 Mg ha-1 (Alovisi et al., 2023). Vale destacar nesse estudo que os benefícios vão além da alteração de pH.

Altura de plantas e diâmetro do caule da soja foram influenciadas pela adição do pó de rocha, com maiores valores de altura e diâmetro de caule observados com a adição de 2,5 Mg ha-1 de pó de basalto. A produtividade da cultura da soja foi influenciada pela adição de pó de basalto, com produtividade máxima obtida na dose de 8,3 Mg ha-1.

Referência Bibliográfica

ALOVISI, A. M. T., TAQUES, M. M., ALOVISI, A. A., TOKURA, L. K., DA SILVA, R. S., & PIESANTI, G. H. L. M. (2017). Alterações nos atributos químicos do solo com aplicação de pó de basalto. Acta Iguazu, 6(5), 69-79

ALOVISI, A. M. T., TOKURA, W. I., KAI, P. M., TAQUES, M. M., CASSOL, C. J., DA SILVA, R. S., ... & LIMA, N. D. (2023). Atributos químicos do solo e componentes agronômicos na cultura da soja pelo uso do pó de basalto.

OBSERVATÓRIO DE LA ECONOMÍA LATINOAMERICANA, 21(9), 14220-14237. CAMPBELL, N. S. (2009). The use of rockdust and composted materials as soil fertility amendments. 402 p. Thesis (Ph.D. in Philosophy) - University of Glasgow, Glasgow.

DALACORTE, L., KORCHAGIN, J., ABREU, C. T., TONINI, V., MULLER, R., & BORTOLUZZI, E. C. (2015). Componentes da acidez do solo e produção de pastagem em campo nativo submetido à aplicação de pó-de-basalto hidrotermalizado (. In XXXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. Natal-RN).

LOPES, A. S. (1990). Acidez do solo e calagem. 3a ed. Ver. / A S. Lopes, M. de C. Silva e L.R. G. Guilherme - São Paulo, ANDA, 22 p. (Boletim Técnico, 1). MELO, V. F., UCHÔA, S. C. P., DIAS, F. D. O., & BARBOSA, G. F. (2012). Doses de basalto moído nas propriedades químicas de um Latossolo Amarelo distrófico da savana de Roraima. Acta amazônica, 42, 471-476

Leia mais: Poder de neutralização do ph

  • Acessos 648

FIQUE CONECTADO

CONTATO

(54) 3361-3307

PRIVACIDADE